O senador Fernando Collor de Mello perdeu o mandato de presidente da República e os direitos políticos em 1992, depois de uma ampla investigação...

O senador Fernando Collor de Mello perdeu o mandato de presidente da República e os direitos políticos em 1992, depois de uma ampla investigação do Congresso. Investido agora na CPI do Cachoeira do papel de tarefeiro dos interesses subalternos dos integrantes do petismo radical, seus antigos algozes, Collor reencarnou-se como autoridade e como defensor da moral e dos bons costumes. Estranho papel. O ex-presidente faria um personagem mais crível se continuasse em sua última linha de defesa, a de raro político que realmente pagou pelos erros que lhe foram imputados. Pagou com a perda da faixa presidencial. A respeito dos crimes de que foi acusado, Collor obteve na Justiça o que mais lhe interessava. Nenhum dos processos criminais contra ele prosperou. Ele poderia passar à história, então, usufruindo esse empate técnico entre transgressão e punição.

No entanto, ao colocar a carranca de investigador, Collor reavivou a memória dos brasileiros sobre seu desastrado fim como presidente. Co­mo pode investigar as pessoas um ex-presidente que levou para dentro do governo federal o esquema de arrecadação de propinas comandado por Paulo César Farias, seu ex-tesoureiro de campanha? PC, como era conhecido, criou uma rede de contas-fantasma que era abastecida com dinheiro extorquido de empresas e usado, entre outras coisas, até para o pagamento de despesas da família do agora senador alagoano. Na Esplanada, Fernando Collor se cercou de um ministro que admitiu ter sido subornado e de outro que recebeu um jet ski de uma empreiteira. À frente do Banco do Brasil, alojou um aliado que se destacou por ameaçar adversários, inclusive fisicamente, e abusar da instituição bancária para espioná-los.

O estilo collorido lançou tentáculos sobre o Congresso. Deputados que se orgulhavam de pertencer à “República das Alagoas” marchavam armados (de revólveres!) pelos corredores da Casa e ainda se gabavam dessa truculenta estratégia de intimidação. Naquele período trevoso compartilhava da intimidade do presidente da República uma figura então corpulenta, que se apresentava como um dos expoentes da “tropa de choque collorida”. Seu nome? Roberto Jefferson. Ele mesmo, o atual presidente do PTB, que, uma década mais tarde, ajudaria a trazer à luz o escândalo do mensalão, o maior caso de corrupção da história. Fernando Collor estava bem no seu limbo, mas saiu dele para entrar na CPI e piorar ainda mais sua história.

via Collor reencarna como defensor da moral – Brasil – Notícia – VEJA.com.


  • Henrique

    06/05/2012 #1 Author

    Tem cenas que só Brasil consegue proporcionar. Quem diria, Collor, defensor da moral e aliado do PT. O mundo dá voltas.

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  • Alex

    05/05/2012 #2 Author

    Isso é uma das coisas mais deprimentes deste país.

    Alguém pode imaginar Nixon cinco ou dez anos depois de Watergate fazendo parte de uma comissão de ética do senado americano pra investigar corrupção?

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  • Robson de Oliveira

    05/05/2012 #3 Author

    Me envergonho desse período do século passado. Fui um dos que, assim como os tais jornalistas acreditaram no Demóstenes, também me iludi com esse cidadão.
    Desde essa época jurei a mim mesmo, nunca mais ajudar a eleger ninguém, mesmo que meu amigo do peito, a cargo público nenhum enquanto essa nossa “democracia” não instituir o voto-facultativo.
    Acho mais coerente de minha parte, já que votei no plebiscito pelo desarmamento, que, sendo o voto uma arma, só irei usá-lo quando realmente tiver a liberdade de fazê-lo.
    Fosse o voto livre no Brasil, senhores como este, além de Sarneys, Renans, Malufs entre outros coronéis, não estariam infestando e poluindo ambientes que a princípio, deveriam ser sóbrios e transparentes.

    Anulo meu voto, mas não anulo minhas opiniões, já que pago por elas e muito caro!

    Fabio.

    Costumo me identificar sempre que posso onde emito minhas impressões, não uso nick, pois detesto anonimato, porém, respeito quem por qualquer motivo os use.
    Mas também assumo toda e qualquer responsabilidade por qualquer comentário, digamos, mais infeliz que possa fazer.

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    Dessa forma, se houver qualquer inconveniente, posso ser alertado do motivo pelo qual qualquer opinião minha mais “esquentada” não saiu!

    Grato.

    Abraços!

    Robson de Oliveira

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