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Na pandemia, governo Bolsonaro torrou R$ 105 milhões com Tamiflu, inútil contra a Covid

O governo federal gastou R$ 105 milhões com a aquisição remédios ineficazes contra a Covid-19 desde o início da pandemia. Esse foi o valor empregado na compra de fosfato de hidroxicloroquina, difosato de cloroquina e, principalmente, fosfato de oseltamivir, conhecido pela marca Tamiflu.

As remessas desses três medicamentos para estados e municípios começaram em 17 de janeiro de 2020 e se estenderam até 30 de abril deste ano. Nesse intervalo de 14 meses e meio foram distribuídas 31,83 milhões de doses para secretarias estaduais e municipais de saúde e para os distritos especiais de saúde indígena (DSEIs).

Desse total, 25,81 milhões de comprimidos tinham como princípio ativo o oseltamivir. Eles foram adquiridos ao custo total de R$ 104,7 milhões, o que representa 99,77% dos recursos destinados à aquisição de quimioterápicos utilizados na suposta prevenção e no suposto tratamento da Covid. Com esse dinheiro , seria possível comprar 2,1 milhão de doses de vacinas fabricadas pelo instituto Butantã ou pela Jansen.

A informação consta da base de microdados do DataSus. Os dados, divulgados pelo próprio governo federal, revelam que o Ministério da Saúde elegeu o fosfato de oseltamivir como sua  principal arma quimioterápica de combate à pandemia. O medicamento tem eficácia comprovada contra o vírus Influenza, mas é inócuo contra o Coronavírus.

Apesar da fama que ganharam graças à campanha levada a efeito pelo Presidente da República, derivados do quinino (hidroxicloroquina e difosato de cloroquina) demandaram apenas R$ 283,36 mil, dinheiro despendido com a compra de 6,02 milhões de doses. Isso corresponde a 0,23% do total de recursos empenhados na compra de remédios inúteis para os fins a que se propunham.

A explicação é que o preço da cloroquina é muito mais baixo do que o do oseltamivir. A dose de difosato de cloroquina custou R$ 0,07 (sete centavos), enquanto a do Tamiflu custou entre R$ 2,00 e R$ 5,33, até 76 vezes mais, dependendo da dosagem de cada comprimido.

Algumas localidades receberam uma avalanche desses três medicamentos imprestáveis para o tratamento da Covid. Ao Amazonas, por exemplo, foram destinadas 1,471 milhão de doses, drogas suficientes para intoxicar um em cada três amazonenses. Desse total, 960 mil doses eram de oseltamivir.

A análise das planilhas divulgadas pelo DataSus deixa claro que o emprego de medicamentos contraindicados para pacientes acometidos pela pandemia não é privilégio de administrações negacionistas.

O estado de São Paulo, por exemplo, foi contemplado com o envio de quase 7 milhões de doses de Tamiflu, 11 vezes mais do que o Rio de Janeiro, que recebeu 599 mil doses. Como a população paulista é 2,5 vezes maior do que a fluminense, a carga de medicamentos ineficazes foi 4,4 vezes maior em SP do que no RJ.

Os povos indígenas também foram alvo da avalanche química patrocinada pelo Ministério da Saúde. Para uma população estimada de um milhão de habitantes, o governo federal distribuiu 470.690 doses de medicamentos inócuos entre os 34 Distritos de Saúde Indígena.

Os yanomi , cuja população não ultrapassa 20 mil indígenas no Brasil, foram os mais intoxicados pela estratégia negacionista do governo federal. Receberam mais de 60 mil doses, em sua maioria de Oseltamivir; o DSEI de Manaus recebeu 52,06 mil; o de Minas Gerais, 24,5 mil;  e o de MS, 28,5 mil.

A prescrição do Tamiflu foi indicada em pareceres técnicos MS para o tratamento da Covid-19 a partir de meados maio de 2020 e perdurou até janeiro passado, quando foi revogada. Ainda assim, as aquisições e remessas prosseguiram até o dia 30 de abril, exatos três meses e meio mais tarde, quando o Rio Grande do Sul recebeu o último lote de 40 mil comprimidos.

Essas drogas, além de não prestarem para pacientes acometidos pela pandemia, ainda geram efeitos colaterais graves com o comprometimento do fígado e a ocorrência de arritmias cardíacas.

No caso do oseltamivir, especialistas alertam para o fato de que o uso desnecessário está contraindicado porque pode criar cepas de Influenza resistentes à ação do medicamento. Isso é especialmente complicado entre populações mais vulneráveis, como os indígenas e os idosos.

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