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Por que a CPI do Cachoeira é urgente e necessária

A semana que começa hoje abre na seara política a discussão sobre a conveniência da instalação da CPI do Cacheira. Incentivada no princípio por Lula e Rui Falcão, presidente do PT, há agora o risco concreto de que o governo e o próprio PT tentem abortar o processo por temerem que os prejuízos sejam maiores do que o lucro.

A preocupação se justifica pela dinâmica que o processo ganhou antes mesmo da criação da CPI. Para atingir Marconi Perillo, os primeiros áulicos da investigação patrocinaram a consolidação de suspeitas mais do que bem fundamentadas contra o governador petista Agnelo Queiroz, do Distrito Federal. E colocaram em evidência a natureza espúria das relações entre o petismo e a empreiteira Delta, a queridinha do PAC. De quebra, serviram para expor o deputado Protógenes Queiroz, que igualmente mantinha relações “profissionais” com o núcleo da arapongagem a serviço do jogo do bicho.

Os sobressaltos que assombram o governo e o PT se somam ao que já se sabe sobre o envolvimento de tucanos notórios como o governador de Goiás nas justificativas para a instalação urgente e inadiável desta Comissão Parlamentar Mista de Inquérito. Capitular diante da bandidagem encastelada no Poder a título de poupar aliados equivaleria a estabelecer um pacto em favor do crime organizado que ameaça as instituições do País.

A CPMI dos Correios, instalada pela oposição, teve o condão de deslindar o maior esquema de corrupção  nutrido pela oficialidade petista na administração federal. Foi um processo dolorido, que culminou com a condenação política do principal auxiliar de Lula, o então ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu. Junto com ele, outros políticos de péssima qualidade moral foram banidos da vida pública. Expostos, os mecanismos de corromper parlamentares sem-vergonha foram neutralizados quando seus operadores — bancos, agência de publicidade, empresas estatais — ficaram moralmente inabilitados para as tarefas sujas a que se prestavam.

A CPMI dos Correios não acabou com a corrupção, mas ajudou a sanear a representação política ao banir da vida pública o que havia de pior no Executivo e Legislativo. E forneceu subsídios à Justiça para punir severamente os que, de dentro da máquina governamental, trabalhavam arduamente para conspurcá-la, etapa que ainda não se cumpriu pela morosidade quase dolosa do STF. Mas até para isso a discussão que antecede a criação da CPMI do Cachoeira foi positiva, uma vez que trouxe à baila a necessidade de julgar os crimes imputados aos mensaleiros chefiados por José Dirceu e Roberto Jefferson antes que prescrevam.

Os efeitos saneadores e o processo de depuração decorrentes de uma investigação parlamentar são enormes e importantes. No caso presente, o revelação da farsa engendrada por Demóstenes Torres e o envolvimento de deputados de seis outras legendas com a contravenção já justificariam, por si só, a criação dessa CPI. Mas haverá muitos outros ganhos para a sociedade. Ela pode ajudar a compreender como são criados e operados os vínculos que transformam governadores, deputados, senadores e funcionários públicos em estafetas de quadrilhas criminosas como a organização de Carlinhos Cachoeira.

E não é só isso. Sob suspeita, a Imprensa tem muito a ganhar em legitimidade. Caso a CPMI prospere, o jornalismo terá que explicar a natureza de suas relações com fontes contaminadas. O público leitor poderá, enfim, saber como é feito o agendamento dos temas sobre os quais os jornalistas levam o País a refletir. Abre-se também a possibilidade também de trazer à luz os vínculos pornográficos entre fontes públicas de financiamento e canais alternativos de propaganda como a chamada BESTA (Blogosfera Estatal) que, à custa de milhões pagos pelo contribuinte, se prestam ao jogo sujo do achincalhe e da injúria continuada.

Por tudo isso, o Brasil só tem a ganhar com a CPMI do Cachoeira, que tem potencial para se tornar tão profunda, extensa e importante quando a própria CPMI dos Correios.  A história recente demonstra de maneira cabal que , em processos de depuração da atividade política, quando o governo, os partidos e os Poderes perdem, a sociedade lucra, a democracia amadurece e a cidadania se consolida.

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