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Maconha na farmácia

Foto: Jornal El País, Montevideo

Ontem o Uruguai começou de fato a enfrentar um problema que apavora o Brasil. A maconha, a mais popular de todas as drogas ilícitas, passou a ser vendida em 16 farmácias credenciadas para usuários cadastrados num banco de dados estatal.
A descriminalização foi proposta e implementada pelo ex-presidente Pepe Mujica, que tem uma frase lapidar a respeito. Ele diz que o tráfico é muito pior do que a droga. Isso significa que os efeitos da proibição, que organiza o negócio do narcotráfico, são muito mais deletérios do que o mal que essa droga pode causar individualmente.
A experiência uruguaia é acompanhada com muita expectativa e curiosidade por todo o planeta. Se for bem sucedida, se conseguir mitigar o problema do narcotráfico, servirá como modelo para outras nações que eventualmente se disponham a enfrentar o assunto utilizando as mesas armas.
Os precedentes são poucos, mas avalizam a experiência uruguaia. Nos Estados Unidos, a Aliança para a regulação das Drogas, uma entidade que estuda seriamente os efeitos da descriminalização, aponta que o uso entre jovens não decaiu significativamente. O que despencou mesmo foram as prisões de consumidores, poupando milhões de dólares ao Estado para mover a persecução penal contra usuários e pequenos traficantes. Caiu especialmente o número de pretos e latinos que iam para a cadeia confundidos com traficantes.
Com os impostos decorrentes da venda da maconha, o Colorado arrecadou 130 milhões de dólares no ano retrasado e o Washington, 220 milhões. O dinheiro foi empregado em campanhas de conscientização e no tratamento dos doentes. E o mais importante: nada indica que tenha havido aumento do consumo.
Em Portugal, a despenalização das drogas fez cair pela metade o número de usuários de drogas pesadas. A maconha é tolerada e utilizada em programas de redução de danos. O tráfico do haxixe marroquino não desapareceu, mas hoje está reduzido a uma fração do tamanho e do poder que tinha nos anos 90.
O melhor de programas como esse que o Uruguai está patrocinando é a possibilidade que os demais têm de ir acompanhando o desenrolar do quadro que se forma. E o melhor efeito é com certeza a perda do medo de discutir o assunto.
Como está mais do que provado, a guerra contra as drogas, com uma abordagem meramente policial do problema, foi perdida pelo Ocidente. Resta saber agora o que pode ser colocado em seu lugar para vencer o principal efeito da proibição, que é a organização do crime e o empoderamento do tráfico.

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